Anunciando nossos cadernos de trabalho

Neste período de quarentena, nosso grupo de estudos encontrou-se num pequeno dilema. Planejávamos iniciar uma abertura e consolidação do grupo, dedicando-nos mais intensa e sistematicamente a algumas leituras que consideramos importantes e utilizando-as para criar espaços de produção de textos e de discussão franca dentro do Instituto de Economia da Unicamp, marco zero deste grupo.

O isolamento social, no entanto, adiou os planos de reuniões mensais até segunda ordem.
Assim, temos nos debruçado à leitura e digestão dos textos no tempo mais ruminante que a quarentena permite a alguns de nós. E em cima disto, começamos agora este projeto de cadernos de trabalho.

A leitura, especialmente dos textos que estamos lendo, especialmente em tempos quentes como estes, parece pedir a conversa, parece demandar que o pensamento se espraie em impressões que possam contaminar e articular-se com mais e mais pessoas, construindo teias de sentido mais amplas que possam nos orientar nesses tempos de mudança.

Como alguém disse por aí, a questão é esta: suspensa a normalidade e exposta a barbárie em que nos encontramos, a volta ao normal passa a ser quase uma impossibilidade. Se ocorrer seria, lembrando o Marx do 18 de brumário, para ocorrer-nos como farsa. Em verdade, passamos por um momento de mudança real, cujo sentido já estava em disputa e assim continuará. Para enfrentar o choque do retorno à rotina, a constituição de redes de solidariedade concretas e filosóficas se faz essencial. Pensemos juntos, portanto.

Desse ensejo, surgem estes cadernos. Pretendemos ensaiar os sentidos que os textos que estamos lendo nos apontam, as perguntas que suscitam, as respostas que sugerem para as inquietações que nos afligem. Ensaiando, estudando e sistematizando os sentidos do que lemos tanto para nós do grupo quanto numa aposta de abrir, articular-se, fazer pensar e ser questionado por quem nos ler nessa mesma quarentena, e mais além.

Desde março, lemos coletivamente três autores:

O primeiro foi o antropólogo sueco Alf Hornborg. Seu livro Global Magic dá conta de todas as preocupações e debates recentes em que está inserido, mas nossa discussão de grupo foi baseada em dois artigos que acreditamos dar uma boa visão sucinta de seus argumentos (que estão disponíveis nestes links: https://bit.ly/3cfFFAw e https://bit.ly/2KZCDoe).

A segunda foi a filósofa francesa Isabelle Stengers, com seu livro-manifesto No tempo das catástrofes.

E a terceira foi a jornalista Eliane Brum, com seu livro recente Brasil: construtor de ruínas.

Cada um deles será tema de um caderno, a ser publicado no decorrer dos próximos meses.